sábado, 22 de junho de 2013

Princípios Fundamentais do Esporte Educacional
Sábado, 19 de Julho de 2008


O conceito de esporte-educação ou esporte educacional surge a partir da Carta Internacional da Educação Física, elaborada pela UNESCO, que renovou os conceitos do esporte em função da reação mundial pelo uso político do esporte durante a Guerra Fria.
Por ocasião dos Jogos Escolares Brasileiros (JEBs), em 1985, iniciou-se no Brasil o debate sobre o esporte educacional. Em 1993 a Lei 8672/1993 e o Decreto 981/1993 reforçam o conceito de Esporte Educacional ao afirmar que a hipercompetitividade e a alta seletividade invalidam a prática esportiva educacional. E em 1995 com a criação do Ministério Extraordinário dos Esporte e do INDESP (Instituto Nacional do Desenvolvimento do Esporte) foi elaborado um documento-ensaio com os princípios fundamentais do esporte educacional, que são:

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Princípio da Totalidade: a prática esportiva educacional deve fortalecer a unidade do homem consigo, com o outro e com o mundo, tendo como elementos indissociáveis a emoção a sensação, o pensamento e a intuição. Nesse princípio, os praticantes do esporte educacional deverão fortalecer o conhecimento, a auto-estima e a auto-superação, tudo isso desenvolvido dentro de um ambiente de respeito e preservação das individualidades.
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Princípio da Co-Educação: o esporte educacional integra situações heterogêneas de sexo, idade, nível socio-econômico, condições físicas, etc. das pessoas envolvidas nas práticas esportivas.
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Princípio da Emancipação: também introduzido nas atividades esportivas educacionais, busca levar os participantes a situações estimulantes de desenvolvimento da independência, autonomia e liberdade.
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Princípio da Participação: estão todas as ações que levam os protagonistas do esporte educacional a interferir na realidade através da participação. Esse princípio compromissa os praticantes no campo social do esporte pelas vivências que essa participação oferece.
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Princípio da Cooperação: ao registrar situações de individualismo, promove ações conjuntas para a realização de objetivos comuns durante a prática do esporte educacional."
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Princípio do Regionalismo: remete os praticantes do esporte educacional a situações de respeito, proteção e valorização das raízes e heranças culturais.
·         4 anos atrás

ESPORTE PARTICIPAÇÃO

Introdução

Não há dúvida que ocorreu uma transformação do conceito esporte no Brasil. Nos locais públicos como nas praças, nos parques assistimos ao nascimento de um novo conceito de esporte, o chamado por Dieckert (1984) de “esporte de lazer”.

A junção de dois termos abrangentes, lazer e esporte, enseja estabelecer um outro sentido para o esporte. Porque o esporte de alto-rendimento não tem nada de idílico, e está muito distante daquilo que consideramos lazer. No esporte de auto-rendimento há a busca do primeiro lugar sempre, síndrome do vencedor e ambição ao recorde. Lembrando que as regras são impostas, não existe interação entre os sujeitos e as regras, a discriminação é total já que separa os aptos dos inaptos, bem como a separação histórica por gênero, idade e nível técnico. O tempo é curto, a vida de atleta é muito curta, se comparada ao esporte de lazer que é para a toda vida. No esporte de auto-rendimento temos como premissa o trabalho e o autoritarismo, com estruturas rígidas dos técnicos, dos diretores, patrocinadores. O atleta aliena seu corpo para a busca do recorde, ficando preso ao sistema financeiro pelos patrocínios e pelo sistema científico com as técnicas, os treinos e os equipamentos.

Realizar atividades físicas sem pretensão de superar índices individuais para apenas sentir-se integrado ao meio ambiente; ser atraído para a prática de um esporte despojado de comparações atléticas; sentir-se satisfeito pela convivência com as pessoas; perceber a facilidade de acesso à prática das atividades físicas e esportivas oferecidas por uma estrutura de funcionamento organizada com segurança para a integridade pessoal de todos; tornar possível a realização do convívio social e seu aproveitamento, decorrente do esporte; favorecer uma prática esportiva que elimine diferenças no sentido de democratizar o bem estar: esses são alguns dos preceitos que nascem da prática do esporte hoje. Neste ensaio pretendemos caracterizar exatamente este esporte que se agrega aos valores do lazer.

Esporte Participação

O que assistimos hoje é o esporte renascendo para a transformação dos valores contemporâneos, talvez mais próximos do que Dumazedier (1979) chamava de esporte participação, ou, hoje, denominado esporte de lazer. A mudança do sentido na prática cotidiana do esporte de auto-rendimento para esporte de lazer ocorreu através da projeção do lazer enquanto elemento intrínseco à atividade humana, transformando as práticas esportivas no tempo livre em entretenimento, diversão, participação, bem estar e qualidade de vida.

Na década de 1970 iniciou-se uma ampla pesquisa para compreender a ressonância das atividades de tempo livre. Houve uma nítida metamorfose no conceito esporte, vinculado à performance máxima, a ambição do recorde e busca de reconhecimento. O esporte sempre fora ligado ao mito do super-homem, veiculado à ascensão social, principalmente em países de terceiro mundo, onde as oportunidades de emprego são escassas. A metamorfose, da década de 1970, foi exatamente na passagem do esporte de auto-rendimento para a busca do lazer


ESPORTE DE RENDIMENTO


O esporte de alto rendimento é caracterizado basicamente pela competição. Todos os esforços das pessoas envolvidas estão voltados justamente para a preparação para a competição. Quando a vitória não vem todos estes esforços são questionados e a lâmina da faca passa a roçar a garganta dos envolvidos. Basta ver a dança dos técnicos e de suas comissões ao longo de uma só temporada no futebol. Quando o psicólogo chega a um clube, se ainda não tiver experiência nessa área, irá experimentar o fio da navalha por diversas vezes (se conseguir sobreviver ao primeiro corte). 

De nós é esperado não exatamente uma contribuição para a saúde e felicidade dos atletas. Espera-se uma substancial melhora de rendimento. Infelizmente a figura do psicólogo ainda á associada a situações de desespero e descontrole. A contratação de um psicólogo ainda é assunto, na maioria das vezes, quando a equipe não está conseguindo render (ganhar), e ninguém de dentro do clube consegue explicar porque. Aí se recorre ao psicólogo esperando-se dele uma grande e objetiva solução. De qualquer modo a inserção do profissional neste campo é permeada por alguns conflitos. É bastante comum que a sua atuação ocorra sob forte pressão. 

Tão forte quanto a que se faz sobre os atletas e profissionais das comissões técnicas. Este é o ponto: a prática do esporte de alto rendimento se dá por meio de muitas cobranças voltadas à obtenção da vitória já. Para se atingir este objetivo passa-se por cima da saúde dos envolvidos. É comum aumentar a carga de treinamento, assim como forçar um atleta a jogar machucado. Ouvir o que ele quer, então, nem pensar. Para aqueles que se recusarem a partilhar destas práticas coercitivas a conseqüência mínima é a “geladeira”. A atuação do psicólogo em projetos que se utilizem do esporte como ferramenta pedagógica me parece bastante viável. O objetivo continua sendo a obtenção da saúde dos envolvidos. Mas no esporte de rendimento, onde a busca por resultados passa pela superação de limites de modos muitas vezes nada saudáveis ainda é bastante nebulosa. Será apenas um ideal romântico o de que um indivíduo feliz rende mais? Aí ficam algumas outras perguntas: qual o papel do psicólogo em situações como estás? Colaborar com o sistema manipulando atletas e profissionais? Ignorar o bem estar destas pessoas? Deixar o código de ética do lado de fora do campo? É possível, frente a estas questões, a atuação do psicólogo no esporte de rendimento? Contribua e deixe o seu comentário.
DIMENSÕES DO ESPORTE
Deve-se compreender o conceito e a prática do esporte em suas três dimensões: educacional, de participação e lazer e de rendimento;• Compreender que o esporte escolar, na atual estrutura piramidal, deve ser reformulado.

Torna-se importante destacar que tais princípios do esporte de rendimento podem se manifestar no esporte educacional, no nascimento do esporte na criança. Os professores de Educação Física conhecem tais princípios, entretanto, precisam compreendê-los melhor. O estranhamento no esporte pode ser muito forte na formação inicial das crianças, que poderia conduzi-las à passividade da mera torcida pelos colegas considerados mais “aptos”. Tais divisões e fragmentações estranham as possibilidades educacionais no esporte e precisam ser revistas pelos professores.
O individualismo e a hipercompetitividade precisam ser constantemente combatidos. São expressões máximas e esdrúxulas que se deseja negar numa sociedade efetivamente fraterna e democrática.
As manifestações da individuação (indivíduo em ação) e da competição a favor e não contra o humano devem ser incentivadas e promovidas de forma didática e educacional, garantindo-se a permanência de valores éticos no decorrer da vida.Bracht (1992), advogando princípios de uma pedagogia crítica para a área, enumera as seguintes posturas:
“Os professores de Educação Física precisam superar a visão positivista de que o movimento é predominantemente um comportamento motor. O movimento é humano, e o Homem é fundamentalmente um ser social (...) precisam superar a visão de infância que enfatiza o processo de desenvolvimento da criança como natural e não social. Fala-se da criança em si, e não de uma criança situada social e historicamente (...) devem buscar o entendimento de que, o que determinará o uso que o indivíduo fará do movimento (na forma de esporte, jogo, trabalho manual, lazer, agressão a outros e a sociedade etc.) não é determinado em última análise, pela condição física, habilidade esportiva, flexibilidade, etc., e sim pelos valores e normas de comportamento introjetados, pela condição econômica e pela posição na estrutura de classes de nossa sociedade (...) Superar a falsa polarização entre diretividade e não-diretividade (...) um outro equívoco que precisa ser superado, é o de que devemos simplesmente ignorar a cultura dominante, que nesse entendimento não serve à classe dominada” (Bracht, 1992, p. 65).
Ao superar uma série de condicionamentos pertinentes à formação tecnicista em Educação Física, os professores precisam entender que o esporte educacional e escolar deve ser o esporte da escola e não o esporte na escola.Da escola, por ser próprio de cada manifestação individual e coletiva, por ser próprio de cada localidade e principalmente, por carregar a perspectiva da autonomia. Não deve ser um esporte na escola, isto é, um esporte de rendimento, olímpico e de treinamento, injetado na escola por determinação de uma dada cultura dominante, televisiva e mercadológica.As interfaces entre o esporte na escola e o esporte da escola tornam se visíveis na medida em que o esporte puder ser democratizado, isto é, ensinado a todos. Reafirma-se a idéia de que não há por que ser contra o esporte de rendimento, afinal ele tem um porquê e um para quê, além do para quem de sua existência.Assim, as divisões entre Educação Física escolar e não-escolar contribuem para uma visualização da cultura corporal de forma ampla, complexa e dialética. Todas as manifestações dos jogos, das brincadeiras, do esporte, da dança, das lutas, da capoeira e de inúmeras formas de movimentar-se estão presentes nestas duas subáreas. Ocorre que as mudanças neoliberais da década de 1990 imputaram à educação formal um sentido restrito à Educação Física. Soma-se a isso o abandono e o sucateamento dos espaços públicos, dos equipamentos e da qualidade profissional que não pode ser imposta por um simples registro, mas deve ser formulada e articulada historicamente.
A atual estrutura do Ministério do Esporte está baseada na Constituição brasileira.
As divisões do Esporte e a constituição de um Ministério próprio com três Secretarias (Educacional, de Desenvolvimento, Participação e Lazer, e de Rendimento) ajudam a compreender o esporte como prática social historicamente construída e culturalmente desenvolvida. As nítidas fronteiras entre as três dimensões do esporte foram resultado das mudanças processadas na sociedade brasileira nos últimos trinta anos, bem como das mudanças internas na área de Educação Física.
O Esporte Escolar é ainda restrito a crianças e adolescentes considerados talentos esportivos, sendo dominantemente compreendido como base para o esporte de rendimento e desenvolvido a partir desta compreensão. Esta é uma realidade que distancia a prática do Esporte da perspectiva educacional, gerando exclusão nas práticas escolares e desigualdade de oportunidades, pois é um processo que já se inicia sendo oferecido para poucos. Sabendo que no decorrer dos anos haverá exclusão e desistência por uma série de fatores, chega-se ao esporte de rendimento com um número baixo de talentos esportivos.

Em sua opinião, quais as principais características do esporte educacional?
Na contra-mão desta pirâmide injusta, busca-se o aumento do número de alunos envolvidos, a continuidade do processo de participação esportiva na vida escolar, almejando uma educação integral, projetando a disseminação da prática e da cultura esportiva do país.Dessa forma apresentamos uma (re)significação da pirâmide citada (que busca talentos pela exclusão – elementos a serem combatidos), incluindo-a dentro de um amplo bloco de sujeitos envolvidos, o que demonstra a continuidade de um processo de ensino e prática esportiva com elevada qualidade ao povo. Teríamos a oportunidade de ampliar o número de praticantes de esporte, tanto de nível iniciante (1) como de nível intermediário (2) antes de se chegar ao esporte de rendimento; nesta lógica, com novo significado.A abertura das pirâmides, isto é, a inversão da lógica da pirâmide anterior (triângulo) implica o alargamento de oportunidades e novas possibilidades de vivência do esporte.Verificamos, assim, a necessidade do aumento da prática esportiva nas escolas, por meio de um projeto de cunho pedagógico e educacional, de competições regionais, estaduais e nacionais, de eventos e festivais esportivos. Em outros termos, o esporte escolar olhando e trabalhando para além da antiga e obsoleta pirâmide.

O professor Elenor Kunz, em 1994, abordou o problema da mudança que era (e continua sendo) necessária na Educação Física. Seu estudo de doutoramento contribuiu para processar as mudanças na Educação Física através do tema esporte. Em sua concepção, haveria uma transformação didática do esporte na prática do professor de Educação Física. A idéia inicial da tese pode ser resumida em: “É uma irresponsabilidade pedagógica trabalhar o esporte na escola que tem por conseqüências provocar vivências de sucesso para uma minoria e vivência de insucesso ou de fracasso para a maioria”.Desta forma, o desenvolvimento do esporte escolar seria conduzido pela contra-mão do processo de exclusão da maioria, isto é, os professores de Educação Física teriam que promover o esporte, ensinando-o a todos. Seria necessário não apenas transmitir e ensinar técnicas dos esportes com vista a competições, mas transformá-lo didaticamente. Isso inclui uma agenda complexa que passa pela compreensão da sociedade que produz mercadorias e chega à instituição Esporte, que também produz mercadorias. Nesse sentido, nos dias atuais, seria impossível imaginar o esporte sem o componente rendimento. Por isso mesmo é importante que os alunos tenham acesso a informações sobre a mercantilização do esporte, de como ocorre a troca e venda de imagem, produtos, atletas e tantas outras mercadorias no esporte e através do esporte.Isso significa uma nova visão, com mais participantes, com maior número de espectadores que entenderão mais sobre esporte e com um maior número de pessoas envolvidas no mundo de negócios dos esportes, com uma compreensão maior do contexto de envolvimento.Se o mais significativo no esporte escolar são as competições pedagógicas, precisamos aprofundar mais o tema do caráter das competições educacionais. Em primeiro lugar registra-se que a herança militar e médico-higienista nos conformou com a idéia do esporte educacional, necessariamente, de treinamento e rendimento de equipes esportivas como única via de promoção de competições.Muitos cursos de Educação Física pautaram seus currículos pelo paradigma da aptidão física, o que implicou um grande número de horas destinadas ao estudo da anatomia, fisiologia, biomecânica e biologia entre outros. Tais conteúdos estavam organizados por uma formação tecnicista que, no esporte, ensinava nada mais do que gestos técnicos, fundamentos básicos do esporte.

Em sua formação, se houve ênfase em aspectos biológicos, você aprendeu como lidar com pessoas saudáveis e normais ou também teve chance de saber como auxiliar alunos portadores de necessidades especiais, com diabetes, asma, e outros problemas crônicos? O professor de Educação Física é formado apenas para ensinar ao aluno ideal em termos físicos e cognitivos?
Na atual realidade, as mudanças foram significativas e, portanto, não podemos aceitar o implismo desta pedagogia, até porque seus objetivos hoje já não são tão possíveis. Por outro lado, devemos nos afastar do espontaneismo pedagógico que entende que a criança deve jogar de acordo com a construção de regras livres e o professor ser um mero coordenador. Tal perspectiva anula o papel docente e, assim, reproduzimos a lógica da exclusão, isto é, nada ensinamos, nada efetivamente transmitimos para as novas gerações.

Na sociedade, o esporte é um fenômeno do senso comum. As pessoas, nos círculos de conversa familiar ou não, reproduzem o esporte e o discurso existente na imprensa. A reprodução é uma categoria importante para a compreensão crítica do esporte. De um lado, somos levados à reprodução de uma série de ações, movimentos e atitudes, isto é absolutamente normal, aliás é bom que aconteça mesmo a imitação da criança, as cópias dos adolescentes, as imagens que registramos na juventude, etc. Mas este é apenas um ponto de partida, pois, de outro lado, não precisamos e não devemos sempre reproduzir ações, movimentos e atitudes. Isso pelo fato de a consciência crítica se manifestar pelas contradições da realidade e da tirania das circunstâncias, o que nos obriga e negar. Em resumo, a reprodução é uma constante do afirmar, do negar e do afirmar novamente em plano crítico-superior.Por isso as competições pedagógicas precisam ser modificadas radicalmente e isso só ocorrerá quando houver condições próprias, materiais e de recursos humanos qualificados, preparados para este desafio.Descrevemos a seguir algumas características negativas na prática do esporte escolar, para podermos compará-las com possíveis mudanças:

• O esporte escolar reforça os valores da competição em detrimento dos valores da cooperação;• O esporte escolar reforça o individualismo em detrimento da solidariedade;• O esporte escolar privilegia atividades repetitivas e mecânicas em detrimento da liberdade de movimento, da criatividade e da ludicidade;• O esporte escolar privilegia a ação exclusivamente diretiva do professor em detrimento do diálogo e da liberdade de expressão;• O esporte escolar desenvolve as modalidades esportivas mais conhecidas e que desfrutam de prestígio social, como o voleibol e o basquete;• O esporte escolar privilegia como conhecimento de determinadas modalidades esportivas, exclusivamente a execução técnica e tática dos seus fundamentos como o passe, o drible, a cortada, etc;• O esporte escolar reforça a idéia de ascensão social através do esporte (cf. Souza, 1994, p. 81).

Qual seria o contraponto da negatividade do esporte escolar e no que efetivamente os aspectos positivos se relacionam com a política e a sociedade? Para responder esta questão, podemos simplificar o discurso propositivo em quatro pontos e então relacionar as pertinências da política e da sociedade:

• O esporte escolar pode reforçar a cooperação através da educação da sensibilidade, da ética, da estética e dos conhecimentos pertinentes à bagagem dos alunos, bem como à criatividade crítica do professor;• O esporte escolar pode reforçar o coletivismo ensinando que dependemos dos outros para poder atuar com mais inteligência, mais estratégia na atividade desenvolvida;
• O esporte escolar pode encaminhar crianças e jovens para práticas prazerosas, sem se furtar às competições pedagógicas. O prazer pode se aliar à técnica, à disciplina e ao estudo rigoroso sobre determinada atividade;• O esporte escolar pode desmistificar a ascensão social de alguns atletas e disseminar um discurso democrático de que sua existência deve ser baseada na possibilidade de ensino para todos.
A aplicação destes pontos no interior da escola depende de um ajuste entre o professor, seus alunos, o projeto pedagógico e também da política traçada por aqueles que detêm poder. Nesse sentido as expectativas de uma política de esporte popular e democrática que possa entranhar-se no seio da sociedade são grandes.

As esferas políticas, desde o governo federal, passando pelos estados e municípios e chegando efetivamente ao coração dos estudantes, podem relacionar-se em uma unidade política de avanço, se compararmos com as tradições políticas de nosso país. Por fim, as dimensões do esporte (educacional, de lazer e de rendimento) também podem criar canais de diálogo na sociedade e é bem possível que isso venha a ocorrer, pois partindo da inclusão social e da democratização do acesso ao esporte, cada vez mais ficarão nítidas as diferenças no fazer esportivo e em seus respectivos objetivos.Se todos concordam com as idéias de que o esporte, na sua dimensão educativa escolar, deva ser regido por princípios próprios e diferenciados do esporte de rendimento, o que dizer do esporte relacionado ao lazer? É possível estabelecer, nas horas de folga dos trabalhadores, práticas esportivas que os conduzam à emancipação?Se entendermos o lazer esportivo como política social, podemos questionar o efeito de tal política, isto é, os conflitos dos setores populares serão anestesiados, adormecidos e amenizados ou terão oportunidade de manisfestar-se nas contradições e reivindicações vigentes? Isso implica questionar se as políticas sociais estimulam os despossuídos e oprimidos a novas conquistas fora o mero direito ao emprego ou se o mero direito ao emprego e o que já existe é o suficiente.Trata-se de uma questão complexa que envolve um certo sentido educacional, mas também pode ser vista pela ótica da necessária redução da jornada de trabalho.

O importante é que a área de Educação Física estabeleça o diálogo com o esporte, traçando as linhas de demarcação dos interesses e confluências.

Nesse sentido podemos separar a Educação Física como componente curricular, mais ligada ao conhecimento da cultura corporal e possibilidades de vivências múltiplas e o esporte escolar mais ligado às vivências esportivas e motoras, diversificadas e/ou específicas.Também podemos separar a educação esportiva do esporte de base, a primeira mais próxima do esporte escolar e das práticas de educação formal; a segunda, relacionada ao esporte de preparação para o rendimento, realizada preferencialmente em instituições de formação de atletas, clubes, associações específicas de treinamento, etc.Por fim, temos que tornar verdadeiro o discurso da inclusão. Isto significa pôr em prática as palavras mágicas do esporte educacional e planejar aulas de Educação Física e esporte que possam expressar com fidelidade o caráter educacional. Significa também abandonar de vez a idéia de que a Educação Física cuida do corpo e da mente (cf. Medina, 1989).

A mentira e o ocultamento das atividades pedagógicas não servem à sociedade, principalmente quando o autoritarismo (e não a autoridade) se faz presente para atropelar toda e qualquer organização democrática. Não podemos mais conviver com a falsa concepção de unidade existente na Educação Física: a de que existe um elo entre corpo e mente que não pode ser dissociado. Da mesma forma temos que rechaçar a famosa dicotomia entre o corpo e a mente, ou seja, não concordar com a divisão e a fragmentação do ser humano. Tais questões implicam necessariamente na abordagem dialética do esporte, avançando-se em direção a uma concepção unitária de esporte, ainda inexistente.Na mesma direção cabe fundamentar a Educação Física como componente curricular excluindo a possibilidade de mera atividade, ou nas palavras de Castellani Filho, “um fazer por fazer”. Isso porque já no nascimento das possibilidades escolares, muitas vezes, há o reforço da perspectiva do “nada fazer” do “recreio prolongado”. Tal perspectiva contribui para deslegitimar a Educação Física no interior da escolar e, conseqüentemente, o esporte escolar sendo tratado como acessório.As conseqüências desse arranjo respingam na sociedade que entende que a atividade física é benéfica para a saúde e ponto. Para além da argumentação fácil, precisamos difundir a idéia de que os interesses de poucos estão sendo o centro do debate político sobre o esporte. Quem não se lembra da famosa frase televisiva: “Saúde é o que interessa, o resto não tem pressa”?

Cabe, nesse formato, inverter a lógica do exercício físico descontextualizado e tratá-lo como conhecimento prático e teórico. Prático, pelo fato de que a base do conhecimento é prática, aprende-se na e pela prática, no fazer, no se-movimentar, na expressão do corpo, na imitação dos gestos. Teórico pelo fato de que é a teoria quem generaliza a experiência, revela questões que nem sempre estão implicadas na prática e, além disso, contribui para atingir a consciência das necessidades dos homens, elevando-os racionalmente e sistematizando os pensamentos da prática.


Meios de comunicação social, ideologia e regressão do pensamento

Com o avanço da tecnologia, os meios de comunicação social, vêem produzindo grandes impactos na sociedade atual, impactos estes que causam constante preocupação. Com suas estruturas tecnológicas os meios de comunicação impõem seu grande fluxo de mensagens ideológicas, causando o conformismo e a manipulação das massas. Muitos meios de comunicação como se apresentam hoje, nada mais servem se não para mascarar a realidade e eternizar o seu estado presente. Além disso, "A objetividade nas relações humanas, que acaba com toda ornamentação ideológica entre os homens, tornou-se ela própria uma ideologia para tratar os homens como coisas" (ADORNO, 1993, p. 35). Infelizmente, os aparatos tecnológicos são feitos para não se pensar, mas apenas para operar e viver num ativismo no qual é impossível a autonomia e a emancipação.

O mercado atual vive das novas tendências dos produtos culturais. Muitas vezes somos como que impelidos pelas propagandas, pelas mensagens subliminares que fazem de tudo para nos induzir ao consumo. Com isso, nos habituamos "Em um mundo onde há muito os livros não têm mais o aspecto de livros, só o são aqueles que não o são mais" (ADORNO, 1993, p. 43). Se em termos de tecnologia nunca se ofereceu tanto,  porém se refletiu tão pouco. Há grandes mudanças de valores entre as pessoas, em grande parte causados pela mídia.

É função da mídia tender a enaltecer o elevado padrão de consumo da classe dominante, associando a isto a idéia de liberdade e de independência. Ou seja, difundindo o consumismo como uma "liberdade de escolha do indivíduo". Além disso, a massificação e a coisificação dos indivíduos, tornam-se mais facilmente o processo de manipulação e dominação pela indústria cultural, transformando-os em verdadeiros consumidores desta indústria. Detendo grande poder econômicos e tecnológicos os meios de comunicação social, controlam e interferem do mesmo modo na política, no processo sociocultural e na vida diária de todos os indivíduos . Como diz Adorno e Horkheimer, "As coisas chegaram ao ponto em que a mentira soa como verdade e a verdade como mentira. Cada declaração, cada notícia, cada pensamento está pré-formado pelos centros da indústria cultural. O que não traz a marca familiar dessa preformação está, de antemão, destituído de credibilidade (...)" (ADORNO, 1993, p. 94). 

Ora, se a mídia se volta quase que exclusivamente para o lazer e o entretenimento é porque os meios de comunicação, sobretudo, a Televisão, têm a função de gerar uma atitude conformista e dócil nas pessoas . Infelizmente, os diversos veículos de comunicação são monopólios ideológicos regidos apenas pela lógica do negócio, com o intuito de dominar e domesticar as massas. Como escreve Adorno (1993, p. 94), "A verdade que tenta se opor a isso não só porta o caráter do inverossímil como é, além disso, pobre demais para entrar em concorrência com o aparato de divulgação altamente concentrado". Desta maneira, é que acontece a regressão do pensamento, pois qualquer coisa que cause reflexão ou insatisfação é imediatamente banida pela indústria cultural.

Por isso, não se pode negar a influência da mídia na sociedade, pelo contrário, esta influência é patente, sobretudo, nos dias atuais. A mídia geralmente impõe o seu estereótipo de beleza, de educação, de cultura, de justiça etc. Essas influências da mídia são quase sempre negativas, pois muitos indivíduos se esforçam e se submetem para serem enquadrados nos padrões impostos pela indústria cultural. Com isso, gera-se uma alienação diante da mídia, ou seja, a mídia aliena as pessoas, porque se ergue acima e contra as pessoas, transformando o ser humano num ser embrutecido e alienado. Deste modo, vivemos um paradoxo em nossa época, por um lado à era da massificação, por outro lado, o desenvolvimento tecnológico divide (separa) e individualiza as pessoas. Até porque essa "igualdade", essa coletivização e esse se sentir que parte do "todo" é uma imposição ideológica, pois as pessoas em sua essência não podem ser igualadas. Por conseguinte, na Televisão e nos demais meios da mídia
  são passados sensacionalismos, diversão sem conteúdos e sem profundidades. São veiculados entretenimentos que sucumbem às formas legítimas de arte, de cultura e destroem o conhecimento e o desenvolvimento intelectual das pessoas. Pois a ideologia tira a crítica dos indivíduos levando-os a um estado de comodismo e passividade.

Nilton Gonçalves Menezes.
 

Publicação: www.paralerepensar.com.br  21/01/2008